02 junho 2006

YIN SEM YANG (poema)

E lá estava ela, à minha frente,
Os olhos observando,
sendo observados.
Castanho-amendoados, hipnóticos,
agora desafiantes.

Fora os olhos, os cabelos,
Antes negros e brilhantes,
Agora sei lá,
Nem negros, nem caju, nem vermelhos,
Intocáveis e presentes,
Completando as profecias do olhar.

E como se ainda não bastasse
Seus lábios movem,
Não o movimento sedutor
dos amantes em beijo ardente
Mas de negação, de secura
Do deserto imposto em um coração.

Um coração que por mais protegido,
Revestido pela silhueta de uma dama
elegante, bela e educada,
Agora assemelha às muralhas da China,
Intermináveis, altas
Perdendo-se ao longe no horizonte.
Qualquer vivente desanima e impressiona só de olhar.

Fora essa muralha frente aos olhos,
Ainda ressoava uma canção
Nem triste nem alegre, melancólica,
notas de uma voz doce e delicada,
Que agora se tornam pausas,
Síncopes desconcertantes e destrutivas
Vindas de algum lugar.

Não há tempo, elementos ou contexto,
Não há fim nesse momento,
Sós, a seção de um em dois,
a meiose, a vida continua,
Incompleta, incorreta, incerta,
Um Yin sem um Yang.