05 janeiro 2006

“SER” Educado ou ser “EDUCADO”?

Já perceberam quantos ótimos profissionais atuam no mercado que são péssimos humanos no trato? Advogados arrogantes, médicos supra-sumos, e o mais horrendo, administradores que se acham deuses... É um problema crônico que começa na base.

Com que idade uma criança começa a estudar? E quando termina? Hoje nós temos o ensino infantil, o fundamental, o médio e o superior (até recentemente 1º grau ou primário, 2º grau ou secundário e 3º grau ou superior). Ao todo são 18 anos de cadeira de escola, com 5 horas diárias de aula (se considerarmos a entrada no pré com 5 anos, sem repetições ou atrasos nos demais anos, e sem contar o tempo de especialização, de pós-graduação, mestrado e doutorado. Nem vou entrar no mérito do tempo de creche). Considerando as demais necessidades - inglês, computação, exercícios físicos - temos umas 8 a 10 horas diárias.
Oras! O dia tem 24 horas! Já foram consumidas 10 horas. Mais 8 horas de sono necessárias para o descanso, sobraram 6. SEIS míseras horas para educação emocional.
Detalhe! A formação da personalidade coincide justamente com a idade em que passamos a nos tornar “encadeirados”: 4 a 5 anos.
Não acham que existe uma DESPROPORÇÃO nessa educação? 10 prá 6? Aprendemos a ler símbolos e sinais de escrita mas não aprendemos a ver as vírgulas do outro, aprendemos a nos comunicar (escrever) mas não aprendemos como comunicar (falar, expressar), aprendemos a raciocinar mas não aprendemos como filosofar (questionar as coisas), enfim, aprendemos a entender os porquês mas não em compreendê-los.
Qual a conseqüência? Nos tornamos adultos crianças! Isso mesmo! Crianças crescidas que não sabem lidar com os próprios sentimentos e menos ainda com os sentimentos alheios.
Colhemos o que plantamos! A não convivência a dois por falta de compreensão, de tolerância, a maximização do conceito “descartável” (vale enquanto é útil) e do individualismo (eu sou, eu quero, eu posso, eu consigo).
O conceito de moral começa cedo, enquanto crianças, através da mnemônica inconsciente, das pessoas em quem admiramos e que nos são exemplos. Se convivemos ou absorvemos pouco com elas qual será nossa referência? Pessoas estranhas ao nosso meio, que não têm sentimentos suficientes que se aproximem aos dos genitores, nos tornando crianças sem limites e se achando super-poderosas, mais desrespeitosas. Temos uma nova estrutura familiar que cada vez mais se altera em virtude das exigências do mercado. Temos um novo tipo de ser humano, o órfão emocional, ou emocional carente, ou mesmo o adulto emotivo-infantil (acho até que deveria ser incluído nos direitos e deveres da criança e do adolescente).
Sempre achamos que o governo deveria atender as necessidades básicas como educação e saúde e sabemos que isso é bem capenga nesse “Brasilzão” de Deus. Mas para isso não temos a quem culpar, não temos para quem empurrar a responsabilidade. Abramos nossos olhos! Que a criança de hoje não seja um adulto emotivo-infantil amanhã.

Até a próxima!