23 fevereiro 2006

Beethoven - O valor das pausas

Pessoa admirável era Ludwig Van Beethoven. Privado do que mais necessitamos para apreciar a música, simplesmente compôs maravilhas. Não posso afirmar mas ouso inferir que sua percepção musical simplesmente inspirou muitas ciências, ou profissões, relacionadas com a música. Creio inclusive que uma delas é a musicoterapia.
Com a degradação acelerada da sua capacidade auditiva, ele percebia as vibrações e duração dos sons pelo tato das mãos ou dos pés. Agora imaginem o seu desenvolvimento interno e intimidade com as notas!
Nosso corpo é uma imensa caixa de som, uma incrível ressonância sonora. Um pequeno detalhe, para conseguirmos sentir, ou perceber a localização, a vibração de cada som dentro do nosso corpo, precisamos aprender a não ter a presença do som, precisamos de silêncio, e silêncio absoluto. E assim Ludwig compôs sua maior e mais famosa obra musical, a nona sinfonia. Caramba! É de impressionar... E também de nos deixar envergonhados. O cara saber, por sua percepção, a diferença das vibrações entre cordas, sopros, peles e metais e o momento exato em que eles se complementam. Não estou desmerecendo o fato dele ser um maestro, um regente, um músico, mas evidenciando sua limitação humana, a SURDEZ.
Na música, pausas, ou silêncios, são ausências de sons. Cada uma delas tem seu tempo, sua duração, sua intensidade e sua vibração, ou seja, suas variações ocorrem conforme a necessidade da obra musical. Na vida, a maior obra musical existente, as pausas também existem, e muito.
Tenho por natureza a ansiedade e a necessidade de estar fazendo algo, e só costumo parar quando realmente me sinto cansado. Já perdi as contas de quantas vezes me falaram para ficar quieto e calado para perceber melhor as coisas, mas me perguntem se eu queria ouvir... Pois é! Se não vai por amor, vai pela dor! Agora eu entendo minha dificuldade em solfejar (para quem não sabe, solfejo é a verbalização de cada nota e seu respectivo som através da leitura e da identificação na partitura musical). Ele exige memorização e percepção, além da localização no corpo da vibração específica de cada nota. Em outras palavras, exige auto-conhecimento.
Viram a importância das pausas, ou do silêncio? Eles nos levam ao auto-conhecimento. Alguns dizem que auto-conhecimento é coisa de religioso, oriental, pessoas meio zen, espiritualistas. Eu digo que é isso tudo, mas também é simplesmente auto-desenvolvimento, ou filosofia pura. Já dizia Sócrates, 470 ou 469 a.C (muito antes de Cristo), “Conhece-Te a Ti Mesmo”, que significa precisamente consciência racional de si mesmo, para organizar racionalmente a própria vida. Pergunto de novo, entenderam o valor das pausas?
Tô saindo dos 3.4 e chegando nos 3.5, quase metade da vida normal do ser humano. Só agora to entendendo REALMENTE o valor das pausas. Estou “pausando” mais, calando mais, me escutando mais, às vezes acho até que é devido à minha idade, mas no fundo é porque não ando satisfeito comigo mesmo. O homem é um eterno insatisfeito.
Beethoven começou seus indícios de surdez aos 26 e ficou totalmente surdo aos 36, ele pensou em suicídio. Para alguém que vivia só da música, seu ganha-pão, "foi a arte, e apenas ela, que me reteve. Ah, parecia-me impossível deixar o mundo antes de ter dado tudo o que ainda germinava em mim!"
Seu testamento, o testamento de Heilingenstadt, é uma lição de vida. Lá consta "Divindade, tu vês do alto o fundo de mim mesmo, sabes que o amor pela humanidade e o desejo de fazer o bem habitam-me".
Por ele ter sido um adolescente introspectivo, tímido e melancólico, freqüentemente imerso em devaneios e "distrações", seria fácil conviver com o silêncio, as pausas, mas ainda assim foi difícil esse convívio.
Imaginem nós, que temos total capacidade auditiva e temos todo o conhecimento e a tecnologia a nosso inteiro dispor. É tanta coisa para absorver que acabamos não nos absorvendo, não nos conhecendo, por isso essas duas frases têm me acompanhado tanto:

“Conhece-te a ti mesmo”
(Sócrates de Atenas)

"Divindade, tu vês do alto o fundo de mim mesmo,
sabes que o amor pela humanidade e o desejo de fazer o bem habitam-me."
(Ludwig Van Beethoven)
Não acham que precisamos parar mais?
Até a próxima!

Um comentário:

Anônimo disse...

a música inicia-se com o silêncio...
pssssssssssssssssss........

faz SILÊNCIO...
QUERO OUVIR A VOZ DE DEUS.

e a voz de Deus é música para nossos ouvidos. paz e bem!
jack